domingo, 27 de fevereiro de 2011

Reflexos do Individual na Escola

A escola é palco de diversos acontecimentos, abrindo espaço para o desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo. O sujeito, neste ambiente, coloca-se como aprendente de tudo que vê, ouve, observa em interação com ensinantes e com outros do mesmo nível, que estão com sede de crescimento. Assim se dá a construção das estruturas complexas de conhecimento, onde abarca a criança, o adolescente, o adulto e as experiências individuais que são todas refletidas no ambiente escolar.
Sempre digo que junto aos materiais escolares, a mochila leva também a bagagem de vida de cada aluno. Mesmo não presentes fisicamente, os pais comparecem à escola; hábitos; rotina; cultura; educação familiar; conflitos pessoas e intrafamiliares estão ali, influenciado positiva ou negativamente no processo de aprendizagem. Na escola acontece tudo! Progressos e percalços como: dificuldades de separação dos pequenos demonstradas no momento de adaptação ou em reações tardias (depois de algum tempo, dias, semanas ou meses, é que a criança sente falta e solicita a presença dos pais); falta de limites e intolerância a regras; ausência de disciplina e organização para com os estudos; falta de interesse advinda de uma cultura onde a família não valoriza a escola, o professor e o estudo. Agitação psicomotora, agressividade e dificuldade de concentração, deixando o aluno indisponível mentalmente para a aprendizagem e que, pode surgir a partir de desarranjos familiares, além de ser facilmente confundida com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), mas que não passa de uma "hiperatividade emocional" e de reações ao meio. É na escola também, com o início do processo de alfabetização, que limites cognitivos e déficits orgânicos tornam-se mais visíveis e pela primeira vez são discutidos, levando a busca por tratamento.
Para que a educação se dê de forma harmoniosa e sem resistências, os pais precisam encontrar o "seu" lugar na escola dos filhos, havendo uma transferência positiva e a composição de uma rede de confiança. Os professores precisam ir além do "aluno da classe" e conhecê-lo em sua totalidade, entendendo o contexto da vida de que ele faz parte e que traz consigo para a sala de aula. Quando há percalços e demandas para trabalhar, a psicologia tem fundamentos e pode vir a participar desta rede, auxiliando o aluno, a família e os professores. Família, escola e psicologia em sinergia e compactuadas em busca de saúde é uma parceria que dá certo!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Primeira Vez na Escola: Separação e Adaptação

Para aquelas crianças e adolescentes que já frequentam a escola, o obstáculo maior na volta às aulas é vencer a "preguiça" e (re)organizar a nova rotina. Portanto, para aqueles pequenos que pela primeira vez estão deslumbrando o mundo da escolarização, o obstáculo é bem maior e pode ser enfrentado com choros e pedidos de voltar para casa.
Pois bem, é uma fase difícil sim, que deve ser administrada com muita paciência, persistência, afeto e, sobretudo, respeitar o tempo da criança que pode adaptar-se no primeiro dia, na primeira semana ou em todo o primeiro mês, levando mais tempo para dar "tchau" tranquilamente para os pais. E é comum também que, a dificuldade maior esteja nos próprios pais em separarem-se dos filhos pela primeira vez. Eis que surge o medo de ser substituído, de perder o seu lugar na vida da criança quando esta começa a incluir outras pessoas em sua rede de confiança, justamente o que a escolarização proporciona: Sociabilização.
Mesmo que a criança não esteja incluída no processo formal de aprendizagem, o seu processo de escolarização já teve início quando começa a frequentar berçários, maternais e jardins. Estes, além do objetivo pedagógico representam também, a "quebra dos cercados" daquela criança. Começa a aventura de desbravar o mundo externo fora de casa. É natural que haja estranhamento, medo, angústia e pedidos de voltar ao seu lar, seu lugar seguro.
É importante nesta fase que os pais estejam muito seguros quanto à decisão de iniciar a escolarização do filho e seguros quanto à escola (metodologias; objetivos; higiene; equipe pedagógica; estrutura física) para que assim, possam passar tranquilidade e segurança. Deve haver disponibilidade para levá-los, sem corre-corre, sendo este um momento tranquilo - tanto na chegada, quanto na saída - sem sair às pressas e nem as escondidas, sem fugas. No início é importante permanecer com a criança em sua sala ou nos ambientes da escola até que o estranhamento seja um pouco amenizado. Deixar que eles carreguem consigo uma foto da família, um objeto de casa ou até mesmo, um objeto dos pais, pode minimizar a ansiedade e transmitir confiança. Pais! Cumpram horários, nunca deixem esperando porque a espera nutre uma fantasia persecutória de esquecimento ou abandono, ocasionando tensão nos próximos dias. E ainda, tenham persistência no processo de separação e adaptação. Investimento é a palavra-chave, porque a desistência gera frustração para a criança e o sentimento de " eu não consegui".

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mau-Humor Crônico

Mau-humor crônico pode ser doença e exige tratamento. Trata-se de um transtorno mental reconhecido pela psiquiatria, nos anos 80, chamado de distimia, que é uma forma crônica da depressão. A diferença entre uma pessoa que sofre de distimia daquela depressiva é que, geralmente, a distímica - apesar das constantes reclamações da vida - toca-a, enfrenta-a e a depressiva, tem uma tendência à passividade, à desistência e à apatia. Estima-se que pelo menos 180milhões de pessoas no mundo sofrem de distimia e se não tratada, 30% dos casos evoluem para transtornos depressivos graves levando ao isolamento.
Para explicar melhor, vejamos os exemplos: Há dois homens caminhando na mesma praça. Um deles fica tomado pela beleza das flores e diversidade das cores. O outro, já tem olhos para o lixo, para o espinho da rosa que o machucou, para as crianças que correm e fazem barulho. Em uma equipe de trabalho, existem aqueles funcionários que procuram resolver os conflitos agindo e pensando positivamente e outro, acha que qualquer mudança benéfica será difícil de acontecer, que não haverá melhoras e que os problemas continuarão a existir. Ao perguntar sobre a vida para duas mulheres, uma diz: "_ Está tudo bem!" e a outra responde: "_ Vai indo, vai se vivendo". Uma pessoa adora ir para a praia, a outra odeia por causa da areia e do sol. Enfim, o sujeito que sofre de distimia é aquele que só vê o lado ruim das coisas, queixando-se constantemente, irritando-se com facilidade e sempre, atribuindo a terceiros os motivos e justificativas para as suas reclamações e rabugices. O problema nunca é visto como seu, mas causado pelos outros, culpando-os.
Por isso, vê-se quão difícil é conviver com uma pessoa que sofre deste transtorno mental. Pois, além dela tornar a própria vida "sem graça" e longe de ser um "mar de rosas", tem a capacidade de prejudicar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas com quem convive. O distímico é capaz de queixar-se até quando ganha na loteria, além de ter um perfil rígido, sisudo, irritadiço, implicante e sarcástico dificultando o estabelecimento de inter-relações saudáveis e amistosas. A tendência para ser afetado por doenças psicossomáticas é grande e não rara as vezes, acaba por queixar-se - também - dos seus problemas gastrointestinais, cardiorrespiratórios, musculares e enxaquecas, tornando-se ainda mais queixosos do que já são.
Portanto, quando a insatisfação, a desmotivação e a falta de desejo e prazer perante a vida forem constantes é preciso cuidado, pois podemos estar frente a uma pessoa doente. Pesquisas mostram que pacientes, em 50% a 60% dos casos, respondem a tratamentos com antidepressivos e psicoterapia. Há tratamento. Existem formas de melhorar o modo de enxergar a vida e ser mais feliz.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Arte de Conviver (Bem)

O homem é ser social por natureza. Quando nasce, já faz parte de um pequeno núcleo social chamado família. Com o passar do tempo, a tendencia é que sua rede de relacionamento seja ampliada, incluindo novas pessoas, novos grupos e novos ambientes de convivência. Viver isoladamente é sinal de psicopatologia para um ser gregário e que, conviver é uma necessidade.
Percebe-se que o homem, mesmo predestinado a viver em sociedade, ainda tem dificuldade de desenvolver as suas relações de forma saudável. Isso é tão verdade que a arte da boa convivência tem que ser amparada pela Lei: a Constituição Federal assegura expressamente o direito de todos conviverem bem e para qualquer desajuste, o Poder Judiciário entra em ação, velando os direitos e garantias fundamentais do cidadão.
Talvez o que dificulta a realização desta "arte" sejam os preconceitos; a ausência de valores morais; o mau-humor; o egocentrismo; as "fofocas"; a falta de sigilo e ética; os julgamentos; a falta de comunicação e não menos importante, a dificuldade que as pessoas têm de escutar. Fala-se muito, mas ouve-se pouco. Isso sugere que não damos toda a atenção merecida a uma pessoa, quando por exemplo, cortamos a sua fala ao meio e a interrompemos. Se houve a interrupção é porque podíamos estar mais preocupados conosco, com a nossa necessidade de falar, menosprezando a fala do outro. A pressa, o corre-corre faz com que não detenhamos tanto tempo para trocas de diálogos. Acaba que um sempre fala mais e ouve menos. Isso que temos dois ouvidos e uma única boca. E como seria se fosse ao contrário?
A arte de conviver (bem) precisa, sobretudo, de comprometimento, de respeito, de educação e de afeto. Mas também é de vital importância que tenhamos regras claras e bem definidas a ser seguidas. As normativas funcionam como bússolas que auxiliam para que cada indivíduo saiba qual é a sua parte e a faça. É preciso que as regras estejam presentes no dia-a-dia de uma família, de um casal, de estudantes que dividem o mesmo apartamento, de colegas de trabalho, onde todos deverão ter a responsabilidade de cumpri-las. Aquela velha máxima: "A minha liberdade termina quando começa a do outro" deve - sempre - ser levada à risca, pois por mais que sejam divididos os mesmos ambientes e lugares, até mesmo a própria cama, é imprescindível que todos têm o direito e a necessidade de vislumbrar de intimidade e privacidade.
Isso tudo facilita para evitar atravessamentos na rotina, que desencadeam estresse, irritação e conflitos. Como dizia Mario Quintana: "A arte de viver é simplesmente a arte de conviver...simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!"